Não é exagero dizer
que a cidade que nunca dorme é o meu lugar preferido no mundo. Nas duas vezes
em que estive em Nova York, a primeira em 2011 quando passei dois meses
estudando, e a segunda em julho de 2012 que foi apenas um passeio de uma
semana, pude compreender por que as pessoas amam aquela cidade. Ver a ilha de
Manhattan de cima coberta de neve ao chegar no aeroporto La Guardia depois de esperar três dias sozinha em Toronto, no
Canadá, onde fazia conexão, foi uma sensação inesquecível. Os três aeroportos
da megalópole ficaram fechados nos últimos dias de dezembro de 2010 como
consequência da nevasca que provocou prejuízos ao norte dos Estados Unidos e ao
sul do Canadá. Esperando ficar apenas algumas horas no aeroporto de Toronto,
recebi a (in)feliz notícia que a previsão para sair de lá seria somente no dia
30 de dezembro. Faltando três dias para o penúltimo dia do ano, senti um certo
desespero. E agora? Para onde vou? E se eu tiver que passar o ano novo
sozinha aqui entre desconhecidos? Em Nova York já tinha amigos me esperando para
a passagem do ano.
Não tive outra
alternativa a não ser procurar um hotel. Sem telefone e computador, liguei de
um orelhão (sim, eles ainda existem) para minha prima que mora no pacato estado
do Alabama, ao sul dos Estados Unidos. Com acesso à web, ela conseguiu reservar
um hotel próximo ao aeroporto para que eu ficasse hospedada. A temperatura
estava perto dos 0ºC, mas a sensação térmica era de -10ºC. Ao invés de
lamentar, resolvi aproveitar a oportunidade e conhecer Toronto. A cidade
é muito desenvolvida, limpa, multicultural, com uma passagem subterrânea
supermoderna e com uma das maiores torres do mundo, a CN Tower.
Ao falar com a minha
família no Brasil, que estava em desespero, consegui transmitir a confiança de
que sim, eu talvez passasse o Ano-Novo sozinha em um país em que eu não
planejara. A primeira coisa que fiz ao colocar os pés no hotel, foi largar as
coisas e correr para comprar um computador. Assim feito, li muito sobre Toronto
na internet e escolhi alguns lugares para conhecer. Visitei o Royal Ontario Museum que é um dos mais
bonitos que já estive. Conta com um acervo de mais de seis milhões de itens e
40 galerias. No museu há uma permanente exibição egípcia e de esqueletos de
dinossauros.
Depois de passar boa
parte do dia lá dentro, fui para a CN
Tower. São 533 metros de altura que separam o topo da torre do solo de
Toronto. Depois circulei por alguns dos 27 km do Path, a cidade subterrânea que tem uma enorme estrutura de shoppings e centros administrativos. Fui
a alguns parques, restaurantes, enfim lugares que me encantaram na capital
canadense. Quando me dei por conta, já era dia 30 e tinha que ir para Nova
York. Confesso que metade de mim queria ficar mais alguns dias descobrindo essa
cidade instigante.
No dia 30 de dezembro
todos os aeroportos de Nova York foram reabertos e os vôos autorizados.
Embarquei ao lado de um francês que morava na Big Apple, Florent, 25 anos, estudante de jornalismo, assim como
eu. Na conversa que misturava ora inglês ora francês, descobrimos que a casa de
estudantes que eu ia ficar era próxima do apartamento dele. Na chegada na
cidade parei tudo o que estava fazendo, só para olhar, admirada, New York inteiramente coberta de neve.
Na falta de táxis no aeroporto, fui de ônibus com Florent. Naquele 30 de
dezembro tumultuado demoramos cerca de duas horas para fazer um trajeto
de 50 minutos. O transporte nos deixou próximo da Times Square. Quando cheguei lá com minha mala gigante é que
entendi tudo que falavam daquela cidade. Quem já a visitou, sabe do que estou
falando.
Luzes, luzes, luzes.
Milhares de pessoas passando pelas nas ruas, táxis superlotados e trânsito
congestionado. Estava muito frio e já era noite. Precisávamos chegar em casa.
Como não conhecia nada na cidade e o meu novo amigo francês morava lá, segui
seu conselho e dividimos um táxi clandestino. Um carro preto que passou com
algum motorista do Oriente Médio. Depois descobri que havíamos pago o dobro do
preço do que pagaríamos por um táxi, mas mesmo assim, valeu a pena.
Agradeci aos
conselhos de Florent e combinamos de nos encontrar assim que passassem as
festas de Ano-Novo. Segui para o dormitório e pude finalmente relaxar. Estava
sã e salva na cidade que tinha planejado há quase um ano, passar o revellion. Pela internet comuniquei
minhas amigas que iria encontrá-las no dia 31 em algum lugar perto do Central Park. Mal consegui dormir,
ansiosa pelo que estava por vir.
Acordei cedo e no
início da manhã já estávamos patinando no maior parque da cidade. Tudo aquilo
que eu via nos filmes, estava confirmado. A cidade é mesmo sensacional. Não tem
explicação andar pelo parque em pleno inverno ao lado dos esquilos e conversar
com pessoas de diferentes partes do mundo a qualquer momento. No início da
tarde passeamos pela movimentadíssima Times
Square e à noite fomos jantar em um restaurante próximo à rua 50 com a Broadway. No final, fomos para a mais
esperada festa de fim de ano do planeta. As luzes da cidade faziam com que
parecesse dia. O barulho não incomodava, transmitia a felicidade das pessoas em
estarem ali. Os guardas que revistavam qualquer pessoa que cruzasse a Broadway intimidavam, mas mesmo assim,
nos deixavam mais seguros. Ficamos cerca de três horas à espera da grande bola
''cair'', um objeto gigantesco que despenca do maior prédio da Times Square quando os ponteiros se
encontram no número 12 do relógio.
A festa não tem hora
para acabar. As ruas são tomadas pela euforia, loucura, e até ira de milhares
de pessoas que esperam um novo ano com mais paz, harmonia, felicidade e mais
amor. Vi pelas ruas que povos de diferentes nacionalidades gritavam juntos por
dias melhores, uma virada tranquila, alguma mudança inesperada, mas acima de
tudo, um mundo mais digno de se viver.