terça-feira, 14 de maio de 2013

Duas cidades, um novo ano

Não é exagero dizer que a cidade que nunca dorme é o meu lugar preferido no mundo. Nas duas vezes em que estive em Nova York, a primeira em 2011 quando passei dois meses estudando, e a segunda em julho de 2012 que foi apenas um passeio de uma semana, pude compreender por que as pessoas amam aquela cidade. Ver a ilha de Manhattan de cima coberta de neve ao chegar no aeroporto La Guardia depois de esperar três dias sozinha em Toronto, no Canadá, onde fazia conexão, foi uma sensação inesquecível. Os três aeroportos da megalópole ficaram fechados nos últimos dias de dezembro de 2010 como consequência da nevasca que provocou prejuízos ao norte dos Estados Unidos e ao sul do Canadá. Esperando ficar apenas algumas horas no aeroporto de Toronto, recebi a (in)feliz notícia que a previsão para sair de lá seria somente no dia 30 de dezembro. Faltando três dias para o penúltimo dia do ano, senti um certo desespero. E agora? Para onde vou? E se eu tiver que passar o ano novo sozinha aqui entre desconhecidos? Em Nova York já tinha amigos me esperando para a passagem do ano.
Não tive outra alternativa a não ser procurar um hotel. Sem telefone e computador, liguei de um orelhão (sim, eles ainda existem) para minha prima que mora no pacato estado  do Alabama, ao sul dos Estados Unidos. Com acesso à web, ela conseguiu reservar um hotel próximo ao aeroporto para que eu ficasse hospedada. A temperatura estava perto dos 0ºC, mas a sensação térmica era de -10ºC. Ao invés de lamentar, resolvi aproveitar a oportunidade e conhecer Toronto. A cidade é muito desenvolvida, limpa, multicultural, com uma passagem subterrânea supermoderna e com uma das maiores torres do mundo, a CN Tower.
Ao falar com a minha família no Brasil, que estava em desespero, consegui transmitir a confiança de que sim, eu talvez passasse o Ano-Novo sozinha em um país em que eu não planejara. A primeira coisa que fiz ao colocar os pés no hotel, foi largar as coisas e correr para comprar um computador. Assim feito, li muito sobre Toronto na internet e escolhi alguns lugares para conhecer. Visitei o Royal Ontario Museum que é um dos mais bonitos que já estive. Conta com um acervo de mais de seis milhões de itens e 40 galerias. No museu há uma permanente exibição egípcia e de esqueletos de dinossauros.
Depois de passar boa parte do dia lá dentro, fui para a CN Tower. São 533 metros de altura que separam o topo da torre do solo de Toronto. Depois circulei por alguns dos 27 km do Path, a cidade subterrânea que tem uma enorme estrutura de shoppings e centros administrativos. Fui a alguns parques, restaurantes, enfim lugares que me encantaram na capital canadense. Quando me dei por conta, já era dia 30 e tinha que ir para Nova York. Confesso que metade de mim queria ficar mais alguns dias descobrindo essa cidade instigante.
No dia 30 de dezembro todos os aeroportos de Nova York foram reabertos e os vôos autorizados. Embarquei ao lado de um francês que morava na Big Apple, Florent, 25 anos, estudante de jornalismo, assim como eu. Na conversa que misturava ora inglês ora francês, descobrimos que a casa de estudantes que eu ia ficar era próxima do apartamento dele. Na chegada na cidade parei tudo o que estava fazendo, só para olhar, admirada, New York inteiramente coberta de neve. Na falta de táxis no aeroporto, fui de ônibus com Florent. Naquele 30 de dezembro tumultuado  demoramos cerca de duas horas para fazer um trajeto de 50 minutos. O transporte nos deixou próximo da Times Square. Quando cheguei lá com minha mala gigante é que entendi tudo que falavam daquela cidade. Quem já a visitou, sabe do que estou falando.
Luzes, luzes, luzes. Milhares de pessoas passando pelas nas ruas, táxis superlotados e trânsito congestionado. Estava muito frio e já era noite. Precisávamos chegar em casa. Como não conhecia nada na cidade e o meu novo amigo francês morava lá, segui seu conselho e dividimos um táxi clandestino. Um carro preto que passou com algum motorista do Oriente Médio. Depois descobri que havíamos pago o dobro do preço do que pagaríamos por um táxi, mas mesmo assim, valeu a pena.
Agradeci aos conselhos de Florent e combinamos de nos encontrar assim que passassem as festas de Ano-Novo. Segui para o dormitório e pude finalmente relaxar. Estava sã e salva na cidade que tinha planejado há quase um ano, passar o revellion. Pela internet comuniquei minhas amigas que iria encontrá-las no dia 31 em algum lugar perto do Central Park. Mal consegui dormir, ansiosa pelo que estava por vir.
Acordei cedo e no início da manhã já estávamos patinando no maior parque da cidade. Tudo aquilo que eu via nos filmes, estava confirmado. A cidade é mesmo sensacional. Não tem explicação andar pelo parque em pleno inverno ao lado dos esquilos e conversar com pessoas de diferentes partes do mundo a qualquer momento. No início da tarde passeamos pela movimentadíssima Times Square e à noite fomos jantar em um restaurante próximo à rua 50 com a Broadway. No final, fomos para a mais esperada festa de fim de ano do planeta. As luzes da cidade faziam com que parecesse dia. O barulho não incomodava, transmitia a felicidade das pessoas em estarem ali. Os guardas que revistavam qualquer pessoa que cruzasse a Broadway intimidavam, mas mesmo assim, nos deixavam mais seguros. Ficamos cerca de três horas à espera da grande bola ''cair'', um objeto gigantesco que despenca do maior prédio da Times Square quando os ponteiros se encontram no número 12 do relógio.
A festa não tem hora para acabar. As ruas são tomadas pela euforia, loucura, e até ira de milhares de pessoas que esperam um novo ano com mais paz, harmonia, felicidade e mais amor. Vi pelas ruas que povos de diferentes nacionalidades gritavam juntos por dias melhores, uma virada tranquila, alguma mudança inesperada, mas acima de tudo, um mundo mais digno de se viver.

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