quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Pointe-à-Callière, Marguerite Bourgeoys e La Ronde em Montreal

Há pouco tempo descobri um dos museus mais interessantes de Montreal. Ele é um dos mais importantes da cidade, afinal foi naquele local que Maisonneuve fundou Ville-Marie (Montreal) em 1642.

Pointe-à-Callière: O Museu de Arqueologia e História de Montreal fica próximo do Old Port, bem no centro de várias atrações turísticas. Logo na entrada, em uma sala enorme, o visitante assiste a um filme em 3D sobre a história da cidade que já foi capital do país. Após, podemos ver, no subsolo, objetos e fatos históricos importantes na construção de Montreal. Detalhe: tudo em meio a ruínas originais.

O museu recebe esse nome em homenagem ao terceiro governador da cidade, em 1688, Chevalier Louis Hector de Callière. A maior autoridade do local na época, construiu uma casa no mesmo lugar em que Montreal foi fundada. O centro histórico foi inaugurado em 1992 para comemorar o aniversário de 350 anos da metrópole.

A exibição permanente conta seis séculos de história de Montreal. Os visitantes aprendem história sobre os povos aborígenes que aqui viviam. O primeiro cemitério católico do país (entre 1643-1654) existiu, provavelmente, no local do museu.

Quando visitei o Ponte-à-Callière, em setembro de 2014, pude ver também uma exposição temporária sobre Marco Polo. O explorador nascido na República de Veneza do século XIII (fim da Idade Média) viajou de Veneza até a China e pelo caminho foi descobrindo culturas, religiões, comidas e pessoas diferentes. O livro escrito por Marco Polo sobre sua grande aventura influenciou Cristóvão Colombo a descobrir uma nova rota até a Índia e finalmente chegar na América, em 1492. A exposição é linda porque traz objetos da época do explorador e dos locais pelos quais passou. Nos corredores foi possível ler trechos do livro - As viagens de Marco Polo. Os ingressos custam $ 20 para adulto e, $ 12, para estudante.

Museu Marguerite Bourgeoys: Marguerite foi provavelmente uma das personalidades femininas mais importantes na história de Montreal. Ela veio da França para a Nova Colônia em 1653 e fundou a primeira escola da cidade. A francesa ensinava crianças a escreverem, a lerem e a fazerem trabalhos manuais. Com o tempo a escola foi crescendo em razão do número grande de crianças, então Marguerite fundou a comunidade religiosa de Notre-Dame. Com a ajuda das freiras, ela educava as crianças desta nova nação. Marguerite projetou a construção de uma das Igrejas mais bonitas de Montreal, a conhecida Chapelle Notre-Dame-de-Bon-Secours, que fica junto ao museu que leva o seu nome. A religiosa também foi responsável por cuidar, educar e ajudar as Filles du Roy, jovens órfãs enviadas pelo rei para colonizar a "Nova França". O museu registra a história da vida dessa imigrante francesa. No último andar temos uma vista esplendorosa da cidade. Em uma das torres podemos ver todo o porto de Montreal e enxergar a Île Sainte-Hélène logo à frente. Não deixe de visitar a capela, é realmente encantadora. A entrada na Igreja é gratuita, já no o valor é de $ 7 para estudantes até 25 anos e $ 10 para os demais.

La Ronde: O maior parque de diversões do Quebéc fica na Île Sainte-Hélène, em Montreal. Mesmo que você já tenha ido à Disney e à Universal, não descarte essa oportunidade. É um parque Six Flags, e isso quer dizer que tem muiiita adrenalina! O parque funciona de maio até novembro e, nesse ano, fechará dia dois de novembro. Por causa do frio é perigoso abrir o parque no inverno. Se você visitar Montreal nesse período em que o La Ronde funciona, vale a pena passar um dia lá. O parque é grande e muito amusemant (divertido), como diriam os franceses! O ingresso custa $ 47 online e $ 60 se comprar na hora. Esse é o site do parque: http://www.laronde.com/larondefr/tickets.asp

Ponte-à-Callière 
Vista do Museu Marguerite Bourgeoys 
Chapelle Notre-Dame-de-Bon-Secours
La Ronde 








segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Mount-Royal e Jardim Botânico

Montreal é uma cidade colorida com centenas de parques e praças espalhados pela metrópole. Podemos aproveitar esses locais em apenas seis meses do ano (primavera, verão e outono) porque durante o inverno, que ocupa os outros seis, com temperaturas de -20°C é difícil ficar ao ar livre. Escrevo aqui sobre os dois parques mais visitados e mais bonitos, da cidade.

Mount-Royal: Em 1535 o explorador francês Jacques Cartier subiu no ponto mais alto de Montreal e nomeou a montanha como Mount-Royal (em homenagem à realeza francesa). Os mais de 200 hectares de área verde podem ser vistos de vários locais da cidade. O parque foi oficialmente inaugurado em 1860 pelos ingleses.
A maneira mais fácil de chegar lá é descer na estação de metro Mont-Royal (linha laranja), atravessar a rua e pegar o ônibus 11. Na subida até o parque, podemos ver ciclistas passando dificuldades para chegar ao topo que fica a 234m. O primeiro lugar para visitar é o terraço que dá origem a muitos cartões postais da metrópole. A vista é realmente incrível, de lá podemos ver a cidade inteira. Subindo um pouco mais visualizamos a famosa cruz do Mount-Royal. O fundador, Maisonneuve, construiu a cruz na montanha para agradecer a Deus pelo fim das chuvas que alagaram a cidade em 1643. No caminho da cruz podemos ver um outro lado de Montreal e, aí sim, apreciarmos um lindo pôr-do-sol. O parque é enorme e vale uma boa caminhada no final de semana. Não se assuste com os cemitérios ao redor, eles são, inclusive, pontos turísticos e lugares de lazer. As pessoas correm e pedalam dentro dos cemitérios.

Jardim Botânico: O lugar perfeito para visitar no verão. São mais de 22 mil espécies de plantas e 20 jardins temáticos em 75 hectares. É um ótimo local para passar uma manhã inteira ou uma tarde aproveitando a natureza. E não deixe de almoçar na parte aberta do restaurante que fica na entrada do Jardim, é linda e a comida é muito boa. Se você não tiver muito tempo para passear, vá direto ao jardim chinês, na minha opinião, o que mais valeu a pena. A arquitetura das cabanas é tão bem feita que nos deixa a impressão de realmente estarmos no país asiático. Leve uma toalha (ou uma canga) e deite embaixo de alguma árvore do Jardim. Não esqueça de levar um bom livro e uma boa companhia. O ingresso custa $18,75 e $ 14 para estudante. A entrada dá direito ao Insectarium, que é bem atrativo para crianças, pois instiga a adentrar nesse mundo dos insetos que é quase invisível para nós e, também, cheio de surpresas. Existem outras opções de ingressos que você pode adicionar o Biodôme (museu dos ecosistemas) e o Planetário. No site tem mais informações: http://espacepourlavie.ca/

Cartão postal da cidade - vista do Mount-Royal 
Terraço do Mount-Royal 

Cruz do Mount-Royal
Pôr-do-sol do Mount-Royal
Subida ao topo do parque
Restaurante no Jardim Botânico
Almoço no restaurante.. maravilhoso! 
Jardim Botânico

Jardim Chinês no Botânico 


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Mergulhando na história do Québec

A primeira coisa que questionei quando cheguei em Québec foi: "Como eles conseguiram conservar o francês nesta parte do Canadá? Como fazem para que a língua não morra?". Para responder a essas perguntas é preciso voltar mais de 500 anos de história. A partir do livro "Brève histoire du Québec" e de algumas aulas que tive sobre Cultura e Sociedade Quebequense posso tentar explicar essas questões.

As expedições para descobrirem novas terras do século XV, feitas por portugueses, ingleses e espanhóis, encorajaram os franceses a fazerem o mesmo. O então rei da França, François I, mandou o explorador, Jacques Cartier, procurar ilhas e países que tivessem ouro. Em 1534, Cartier chegou ao golfo Saint-Laurent, na região de Gaspé (lado Leste do Canadá). O explorador francês não encontrou nada de muito interessante nas terras descobertas, então o rei, que já tinha ouvido falar do sucesso dos vizinhos europeus nas conquistas de terras, enviou exploradores para a Flórida (nos Estados Unidos) e para o Brasil. Mesmo que eles não tenham visto o Canadá como um local de possíveis investimentos, alguns franceses continuaram vindo ao longo dos anos procurando por ouro. Foi quando descobriram um animal que seria importantíssimo para economia da França, o castor. Os franceses viram uma ótima oportunidade de investir no comércio de fourrures, que eram as peles dos animais usadas para roupas e chapéus. Última moda na Europa e necessários durante o inverno, os chapéus feitos de pele de castor movimentaram a economia e motivaram a colonização do Canadá.

A chegada dos franceses foi determinante para outro povo que habitava a região há mais de dez mil anos, os chamados autochtones (aborígenes), que fazem parte da primeira nação do país. Segundo historiadores, os aborígenes vieram pelo Estreito de Bering (ponto de terra entre a Sibéria e o Alasca) no período da glaciação. A primeira nação, que se mantinha da caça, pesca e agricultura, teve que aprender a conviver com os "intrusos". Muitos morreram após serem contaminados com vírus e bactérias que os europeus portavam e isso os deixava mais assustados ainda em relação ao franceses. É certo que após o começo da colonização tiveram muitos conflitos e batalhas, inclusive entre as próprias tribos indígenas. Hoje, os autochtones ainda existem por todo o Canadá, e os mais tradicionais mantêm a cultura de origem. Leis que proíbem a pesca e caça de certos tipos de animais, não se aplicam aos aborígenes, e isso, é claro, gera polêmica entre os canadenses. 

Em 1608 o também explorador francês, Samuel de Champlain, fundou a cidade de Québec (na língua dos autochtones Québec significa "onde os rios se estreitam"). A imigração para o Canadá não era muito atraente pelos europeus principalmente por causa do clima. O inverno no Quebec é mais rigoroso do que na França. Por isso, Cartier trouxe prisioneiros para colonizar as novas terras. Assim como na Austrália e no Brasil, os primeiros habitantes europeus na região, eram prisioneiros.

Em 1643 Paul Chomeday de Maisonneuve fundou a cidade de Montreal, que era chamada de Hochelaga (que significa "nós passamos o inverno aqui") pelos aborígenes. Em 1700, a França atingiu seu apogeu na América. O país dominava todo golfo Saint-Laurent e começou a tomar conta do estado da Louisiane, nos Estados Unidos. O problema é que em 1663 o Canadá tinha três mil habitantes, e os Estados Unidos, 80 mil. Por essa razão, o rei da França, Louis XIV (ele assumiu o trono em 1660), enviou mulheres órfãs e pobres para o Canadá com o objetivo de formar novas famílias. Essas moças ficaram conhecidas como Filles du Roy (filhas do rei). Na época, existia uma mulher para cada 14 homens no novo país. Com a chegadas das enviadas pelo rei, os homens tinham até 15 dias para achar uma esposa, caso contrário, perdiam o direito à caça.

Em 1702 foi feito o tratado denominado "A grande paz de Montreal" que foi assinado (em forma de desenho) pelos aborígenes e pelos franceses. Neste tratado estava esclarecido que os europeus detinham o controle do comércio da pele dos castores. Tudo ia bem até que em 1763 os ingleses dominaram o Canadá. A famosa batalha "La Conquête" (a conquista) foi iniciada pelos ingleses que queriam dominar todo continente norte-americano. Com 20 mil soldados contra 7 mil franceses, a Inglaterra conquistou o Canadá. Novamente, por causa do clima, da população e das leis francesas, o país não atraía a imigração dos britânicos. A população do Canadá foi obrigada a abandonar a língua francesa e a religião católica. A Coroa Britânica impôs a língua inglesa e a religião protestante. Após alguns combates e revoltas da população, em 1774 foi criada uma constituição que admitia que os franceses mantivessem a língua materna, a religião católica e as leis francesas.

Em 1791 foi criada uma lei que dividia o Canadá em dois países: Baixo Canadá (região do Quebec) e Alto Canada (região de Ontario). Dois países com diferentes etnias, línguas e religiões. Foi em 1840 que as duas regiões se uniram em um só país. A língua inglesa era a oficial, mas oito anos depois a Coroa Britânica reconheceu o francês como idioma dos quebequenses.

Somente em 1867 que o Canadá conseguiu a independência do Reino Unido. A partir daí, os francophone (pessoas que falam francês) começam a querer cada vez mais preservar a língua no Québec. Em 1960 aconteceu a Revolução Tranquila (evento decisivo para a história do Québec). O estado torna-se laico (Governo e Igreja agem separadamente), foi criado um Ministério da Saúde e da Educação, foram feitas reformas políticas profundas e a prática religiosa diminuiu. Nessa época surgiu o sentimento de souverainisme (desejo de tornar-se independente). Em 1980 e 1995 foram feitos dois referendos para a separação do Québec, do Canadá. No primeiro, 40% da população votou pela independência e 60%, não. No segundo (e último), 49,6% optaram pelo sim e 50,4%, pelo não. 

A independência do Québec é um assunto ainda muito discutido pelos canadenses e tem muitas particularidades para serem analisadas. Conto mais sobre essa polêmica em outro post! Espero que tenham apreciado um pouco da história do Canadá. 


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Jogo de hockey em Montreal

É claro que eu não poderia perder a oportunidade de assistir a um jogo de hockey em Montreal. O esporte é a grande paixão nacional dos canadenses. Um dia perguntei a um québécois qual era o esporte preferido dele, e ele me respondeu "qualquer um que possamos praticar em um lugar fechado, por exemplo, o hockey". É totalmente compreensível essa reposta se levarmos em consideração que os canadenses têm aproximadamente seis meses de inverno. 

Ninguém sabe quando e onde o esporte foi criado, mas existem fortes indícios de que tenha sido no Canadá. Segundo arquivos do Museu da Civilização Canadense, em Ottawa, existe um registro de um jornal de 1825 sobre um homem praticando hockey no gelo. O primeiro jogo oficial do esporte no mundo foi em 1875, em Montreal. Em 1917 foi criada a liga nacional de hockey, a famosa NHL (National Hockey League). Desde 1952 os canadenses já acompanhavam o esporte pela televisão. 

Fui a um jogo do Canadiens contra o Colorado Avalanche (time dos EUA). Foi uma experiência incrível. O jogo aconteceu no Centre Bell em Montreal, o local é um famoso centro de eventos que também recebe shows durante o ano. O lugar é enorme e com uma segurança igual a que tivemos nos estádios durante a Copa do Mundo no Brasil. Os guardas realmente vasculham tudo que você leva para dentro do estádio e impedem a entrada com mochila ou com bolsa grande. Mas para os desavisados, como eu e meu namorado, existe um lugar no subsolo onde pudemos guardar as mochilas. Não nos deixaram  entrar com uma câmera fotográfica profissional, só é permitido portar as pequenas (cyber-shot) ou iphone. A NHL dura sete meses, começa agora em outubro e termina em abril. O jogo que fomos foi da pré-temporada, e a adrenalina dos torcedores já estava a mil. 

Achei mais fácil de entender as regras do jogo do que na partida de baseball que assistimos em Toronto. É certo que é um dos esportes mais violentos do mundo, se não o mais. Por isso, os jogadores usam equipamentos de proteção pesados. Eles se batem mesmo, e sobra socos e ponta pés até para os juízes. O que confunde um pouco é que eles trocam de posição o tempo inteiro, são somente cinco jogadores na linha e eles revezam muitas vezes com os que estão no banco. O hockey é um dos únicos esportes que permite a troca de jogadores ilimitada enquanto a partida está em progresso. 

Um dos fatos que mais me chamou atenção no estádio, foi que todo mundo comia enquanto assistia ao jogo. Era quase uma obsessão por comida. E os lanches no estádio não eram baratos. Fiquei impressionada com esse hábito dos canadenses. Quando ia para o intevalo, eles formavam longas filas para comprar mais comida. Batata frita, hambúrgueres, nachos, pipoca... por todos os lados! Um saco de pipoca custa cerca de $ 7 e uma cerveja, pasmem, $ 11. 

A partida é longa, são três tempos de 20 minutos com intervalos entre eles de 20 minutos. O tempo só é cronometrado quando o disco está em campo, por isso ele para diversas vezes e o jogo torna-se extenso. Quem quer assistir a uma partida pode comprar o ingresso pelo site do Centre Bell - http://www.centrebell.ca/en/ . O ingresso mais barato de um jogo da pré-temporada é de $ 60, e da liga, por volta de $ 120. 

Center Bell


Visitantes