quinta-feira, 10 de abril de 2014

Sebastião Salgado - Da minha terra à Terra

O trabalho de um dos maiores fotógrafos do mundo é muito conhecido. No entanto, a história da vida de Sebastião Salgado, que até então não havia sido publicada, impressiona e encanta da mesma forma que a obra do fotógrafo. O livro "Sebastião Salgado da minha terra à Terra" foi escrito juntamente com a jornalista Isabelle Francq, que já trabalhou no jornal "Le Monde". 
Sebastião Salgado nasceu em Minas Gerais em 1944. Formado em economia foi embora do país durante a ditadura militar em 1969  para morar em Paris com a namorada, hoje esposa, Lélia. Com apenas 20 anos de idade ele deixou  o Brasil, pois fazia parte do grupo de militantes que lutavam contra a ditadura. O jovem casal passou por dificuldades no início da vida em Paris, mas conseguiu reverter a situação. A esposa tinha começado a faculdade de arquitetura na capital Francesa, enquanto Salgado conseguiu um trabalho em uma empresa em Londres. Sebastião Salgado gostava muito de fotografia e aos poucos ele e a esposa foram discutindo a possibilidade de Salgado largar a economia e se dedicar somente a fotografia. Quando o primeiro filho do casal nasceu, Juliano, ele optou pela atividade que iria lhe fazer mais feliz.
O casal investiu todas as economias em equipamentos. Sebastião trabalhou nas agências Sygma e Gamma, e ficou 10 anos na Magnum. Depois fundou a própria empresa, Amazon Images. Com o trabalho percorreu o mundo diversas vezes. Visitou a África outras tantas e se apaixonou pelo continente. Passou meses convivendo com índios de regiões remotas. Antes desses períodos de reclusão ele pedia autorização para os órgãos responsáveis pelos direitos dos índios e aos poucos foi se aproximando deles. Era preciso calma e paciência, pois os nativos ficavam muitas vezes desconfiados já que milhares tinham sido massacrados pela civilização ocidental. Salgado viveu sobre péssimas condições, passou frio, fome, dormiu mal, sem conforto nenhum. Tudo isso para que a reportagem fosse a melhor possível. Sebastião Salgado decidia  passar mais tempo nos locais para que os povos indígenas pudessem se acostumar com ele e dessa forma a fotografia ficasse mais natural. 
No início da carreira, ele fotografava pessoas e aos poucos decidiu se dedicar as paisagens, a natureza, aos animais, para construir a exposição Gênesis. O resultado de oito anos de trabalho percorre o mundo desde 2013. Tive a oportunidade de assistir em Porto Alegre, na Usina do Gasômetro,  e é realmente incrível. 
Todas as fotos de Salgado são em preto e branco. Ele afirma que assim o público "se concentra na densidade das pessoas, suas atitudes, seus olhares, sem que estejam parasitados pela cor (...) Quando contemplamos uma imagem em preto e branco, ela penetra em nós, nós a digerimos e, inconscientemente, a colorimos."
Sebastião Salgado e a esposa são parceiros de trabalho, de viagens, de vida. Eles cuidam juntos do filho Rodrigo que tem síndrome de down. Com o nascimento dele, Salgado afirma que a vida mudou. Possibilitou que ele pudesse observar, prestar mais atenção nas pessoas com deficiência e descobrir que eles também merecem ser amados e tratados igualmente por todos os seres humanos. 
O casal fundou o Instituto Terra que tem como objetivo reflorestar a Mata Atlântica. Parte das terras eram do pai do fotógrafo. Hoje mais de dois milhões de árvores foram plantadas, e o objetivo é chegar a 50 milhões em 2050. 
O homem que fotografou civilizações que jamais tiveram contato com o mundo ocidental, que passou por situações perigosas como quando decidiu cobrir o genocídio de Ruanda, e que desvendou o trabalho dos homens de Serra Pelada, tem muitas histórias para contar. Através das fotos ele já sensibilizou milhares de pessoas e agora, contando sua história, é possível se encantar ainda mais com o trabalho do fotógrafo.

"A única verdade é que a fotografia é a minha vida. Todas as minhas fotos correspondem a momentos intensamente vividos por mim. Todas elas existem porque a vida, a minha vida, me levou até elas. Porque dentro de mim havia uma raiva que me levou àquele lugar. Às vezes fui guiado por uma ideologia, outras, simplesmente pela curiosidade ou pela vontade de estar em dado local. Minha fotografia não é nada objetiva." Sebastião Salgado



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